Bebê Reborn: Quando a Fantasia do Berço Vai Longe Demais
- Andrea Nascimento
- 19 de mai.
- 2 min de leitura
Se você já viu alguém carregando um bebê com tanto cuidado que parecia estar segurando a última esperança da humanidade, mas, ao se aproximar, percebeu que era uma boneca... parabéns! Você acabou de se deparar com a febre dos bebês reborn. Esses pequenos seres, meticulosamente fabricados para parecerem recém-nascidos, estão ganhando o coração (e o bolso) de muitos adultos. Mas, o que a Psicanálise tem a dizer sobre isso? Vamos deitar esse bebê (não tão) real no divã.

Primeiro, precisamos falar do óbvio: o bebê reborn é uma fantasia encarnada. Ele é o sonho da maternidade ou paternidade sem os desafios reais. Nada de cólica, fralda suja, noites em claro ou aquela conversa séria na adolescência sobre escolhas de vida. É a encarnação do "eu quero, mas não quero tudo".
Freud provavelmente levantaria uma sobrancelha curiosa para esse fenômeno. Uma pulsão de vida e morte embaladas em um mesmo pacote: vida, porque é tratado com afeto e cuidado; morte, porque nunca evolui, nunca cresce, nunca chora (graças a Deus). Já Winnicott, com sua teoria do objeto transicional, talvez visse o bebê reborn como uma extensão do cobertorzinho de segurança, agora em formato de um ser humano de silicone.
O mais interessante é perceber que, para alguns, o bebê reborn é uma tentativa de reparar traumas emocionais. Talvez a perda de um filho, uma infância carente de afeto ou até uma vontade de ser mãe/pai sem as responsabilidades reais. Para outros, é apenas um hobby, uma coleção que demanda carinho. E, cá entre nós, cada um cura suas feridas como pode (ou como o bolso permite).
Então, antes de julgar aquela senhora que fala com o bebê de silicone como se ele fosse herdeiro de uma grande fortuna, respire fundo e lembre-se: cada um carrega seus fantasmas, alguns em bonecos muito realistas.
E você? Está pensando em adotar um bebê reborn? Não esqueça: ele não chora, mas o seu terapeuta pode ouvir por ele.
Andrea Nascimento
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